segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Melancolia (2011)




Lars Von Trier passou por um período de depressão. Ele descobriu, no fim dos anos 90, que não era filho de seu pai pela própria mãe em seu leito de morte. Isto o tornou um dos melhores cineastas da atualidade, porque é sempre sobre a tristeza que ele trata seus filmes. Ok, você tem aquele movimento fajuto chamado "Dogma 95" criado por ele, que não significa absolutamente nada, mas você tem "Dançando no Escuro", "Onda do Destino" e o sensacional "Dogville". É um diretor de respeito.

Melancolia é mais um exemplo disso. A fotografia é sensacional e a tristeza aqui é novamente representada nas personagens femininas. Justine, de Kristen Dunst, sofre de depressão. É uma mulher que não sabe lidar com a felicidade, e, logicamente, estraga tudo. Pessoas depressivas são egoístas porque gostam de contagiar a todos com sua tristeza. Justine é uma mulher que existe para ferir as pessoas para aproximá-las dos seus sentimentos.  É aquela que quer ser cuidada, odiada, e desprezada. Ela não consegue atingir seu pai e nem sua mãe.E a primeira parte do filme, que talvez nos faça odiá-la, num primeiro momento, nos faz entender uma visão sobre  com é  mais fácil lidar com o fim do mundo sendo ela.

Charlotte Gainsbourg, pra mim, muito melhor atriz que a Dunst, é a nova preferida do Trier, porque é o segundo melhor papel que ele dá a ela. Vive a  frágil, porém, otimista, Claire. Mulher que vê as pessoas em volta e faz de tudo pra tornar sua irmã feliz, mas naquela forma, um tanto hipócrita, de querer conduzir a situação, modificando as pessoas ao seu modo de lidar. Ela sabe do fim do mundo, mas tenta acreditar que há chances de sobreviver. Claire é aquela que quer estender a mão pra salvar as pessoas. Justine quer aproximá-las pro seu fundo do poço.

O filme trata de um planeta que vai se chocar com a Terra. Na primeira parte, vê-se um casamento dos sonhos dado por Claire a Justine. Ela estraga tudo, claro. Os primeiros 10 minutos de filme são imagens em câmera lentíssima, com uma fotografia sensacional, que mais parecem quadros em movimento, seguidos da história, com o casamento de Justine e seus altos e baixos, e pelo início do seu surto. Neste momento, vemos que a pessoa mais sincera é a sua mãe, que, mais tarde, percebemos ser versão madura da própria Justine. O filme passa um pouco arrastado nesta parte, porque você precisa se reiterar ao sofrimento da Justine, a personagem mais representativa do filme.

A segunda parte, trata da visão da Claire. Apavorada, pelo fim do mundo, ela busca na esperança uma forma de se firmar e seguir adiante. Ela NÃO ACEITA a versão científica. E, na visão do diretor, é uma forma do ser humano se enganar quanto ao exato, sempre se conformando com o seu destino ou quanto ao que os outros dizem. Seu marido é astrônomo e tenta convencê-la de que há sensacionalismo e propagação do terror em cima de uma possível catástrofe que, pelos seus cálculos, não ocorreriam. E aqui, insere-se toda e qualquer referência absurda sobre totalitarismo, nazismo a qual o Lars foi relacionado por suas declarações no Festival de Cannes. Nunca houve qualquer indício disso em sua obra. Muito pelo contrário.

Depois de apresentadas as personagens, vemos como elas lidam com a catástrofe. O filme não tem uma história linearmente contada. Centra-se no sofrimento das personagens e nos diálogos, a princípio, desconexos. Não é lá muito fácil de assistir. É como ler um texto prolixo e subjetivo: ou você embarca na onda do diretor e passa a analisar as coisas bombardeadas de frases soltas; ou, você apenas vê o desenrolar, pra depois organizar tudo e você mesmo sequenciar os fatos.

É marcante no cinema de Lars o drama sempre contado a partir de personagens femininas. Talvez, isso tenha a ver com a sua mãe e sua depressão, talvez, seja porque elas tenham maior potencial dramático,mas que este seja um dos melhores diretores, com os melhores filmes das ultimas duas décadas, não há menor dúvida.

*Este filme se deve todo a ele.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Além da Vida

Clint Eastwood fez um filme sobre a morte. Nos seus 80 anos de idade, começou a pensar a respeito e resolveu tratar da morte a partir dos vivos, das experiências quase-morte, da maldição dos médiuns e das pessoas que precisam se comunicar com os que já se foram. É um filme que, segundo ele, poderia ter sido realizado aos seus 30 anos. Certamente, ele poderia ter começado com um filme assim.

A história, na verdade, são três que se entrelaçam. 3 pessoas que vivem em países diferentes. Marie está na Tailândia e presencia um tsunami, é arrastada pelo mar, (quase) morre, mas é ressuscitada. George é médium, que quase morreu quando criança, mas foi trazido de volta, e desenvolveu o "dom" de se comunicar com os mortos, algo que ele renega. E, por fim, Marcus, que perde o irmão gêmeo Jason atropelado,mas não consegue se desvincular da presença dele.

Acabou a sinopse, acabou a história. O que Clint faz no filme, é apresentar as personagens e a forma como elas lidam com a mudança em suas vidas. De forma superficial e forçada. Filme clichê, daquela visão da morte como visualização dos vultos contra a luz e da não aceitação da perda dos entes queridos. E nisso, soma-se as desgraças dos personagens  secundários ao lado dos protagonistas. Quem mais comove é o Marcus. O ator, uma criança, de longe, é o que tem a maior dramaticidade e história dos três. É o que traz um certo propósito, já que ele busca se comunicar com irmão, e, neste caminho, passa por diversos charlatões, etc. Marie, jornalista rica, bem sucedida, não tão sortuda em relacionamentos, tenta escrever um livro sobre sua experiência, atordoada pela situação pela qual passou, procurando explicação científica,em que todos pensam que ela é louca. Veja você que a experiência dela é a mesma contada zilhões de vezes. O filme se passa nos dias atuais e o diretor quer que você acredite que é algo novo.

É um filme com temática batida, mal resolvido, o entrelaçamento das histórias* se dá de forma tão forçada como foi a quase morte da Marie**. É sem dúvida o pior filme da carreira do Eastwood. Não chega a ser o pior da vida de ninguém, porque você realmente vai gostar do Marcus.

Apenas, se assistir, não esqueça que ele fez "Mundo Perfeito",  "Sobre Meninos e Lobos" e "Gran Torino". Só por esses filmes, você nunca vai tomá-lo como diretor mediano, apesar deste filminho medíocre. E pensa que ele está velhinho, sensibilizado pela morte, que , na verdade, gostaria de ser novato, fazendo filme digno de iniciante.Talvez, no tema morte, seja, porque os filmes que ele fez sobre a vida são maravilhosos.




*Eles se encontram em Londres numa feira de livros e palestras sobre  o tema. Marie está lançando o livro, rola um climinha com o George, aí aparece o Marcus, George é perseguido. Algo assim, que, nas duas horas de filme, ele realiza em 15 minutos.

** A Marie, durante o tsunami,  se agarra a um tronco, e a carroceria de um carro se choca com ela de costas, ela desmaia. Aí, é salva e fazem respiração boca a boca, como se fosse afogamento, e ela até cospe a água dos pulmões.

sábado, 1 de outubro de 2011

RIR

Eu sabia que não iria prestar muito você colocar axé e popzeira juntos.  Claudia Leite, que chama metaleiro de nazista, porque não aprecia o espetáculo dela e sua BURRA tentativa de fazer uma micareta com 100 mil pessoas.
Uma coisa é certa: o mau gosto das escolhas em alguns dias e a miscelânea que fizeram. É clássico isso, mas dia 25 foi um dos melhores da história. Showzaço do Metallica e Slipknot e o sensacional Motorhead, com Lemmy não tanto em forma, mas competentíssimo.

Daí, você vai pro Palco Sunset e vê Sepultura dando canja com Mike Patton, que se apresentou no dia anterior, que metaleiro não paga pra ver RHCP e Snow Patrol, com Milton Nascimento e Yuka, no mesmo palco que seria de Sepultura no dia seguinte. Muito fino, um dos melhores vocalistas, de uma banda sensacional chamada Faith No More, de graça, dando canja num dos, segundo os integrantes do Sepultura, melhores shows de suas carreiras. Palco secundário,amigo!

E o "melhor" show por conta de Legião Urbana + Orquestra Sinfônica Nacional, com Dinho batendo cabeça cantando "Por Enquanto"? Pitty, sem voz, cantando "Indios", e, pasmem, Flausino e Herbert Vianna - capenguíssimo, em nome da Geração anos 80, que ficava nas rodas de violão da escola, cantando uma banda, cujas letras não passam de colchas de retalhos de coisas já escritas. Destaques de um palco que já viu Queen tocar.

Clarividente que temos as cantoras de axé. Cláudia, vaiada, numa apresentação com Elton John e Rihana, e cantoras de boate, e Ivete ovacionada no dia dos deslocados, que amam Shakira e acham que Lenny Kravitz representa algo roqueiro. Rock é algo que o Brasil não conhece mais. Nossa música agoniza tanto quanto o socialismo cubano cede à globalização. Não existe mais espaço, não existe público que não conheça coisas boas advindas da internet. E eu culpo o difícil acesso a coisas boas o fato do Rock anos 80 ser tão cultuado. Não existe mais nada daquela época que possa sobreviver hoje.

A gente pede uma progamação melhor. Pede Pixies, Iron Maiden, Van Halen, Chris Cornell, Rolling Stones, de clássicos, ou Arctic Monkeys, The Kills, Yeah Yeah Yeahs, Two Doors Cinema Club, The Naked and Famous, do indie anos 2000. Zero 7, Nouvelle Vague, Mutantes + Rita Lee (não aquela coisa tosca da Zélia Duncan)pro lado mais alternativo. Algo mais criativo, mais novo. Algo que não seja tão apelativamente comercial ou de gosto duvidoso. As pessoas vão muito pelo evento.

E , sinceramente, essas coisas que se vê o ano todo, não deveriam se repetir, num momento em que artistas estão pouco criativos, ou com qualidade que não se compara a internacionais.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Filmes dublados

Eu sempre me manifestei contra filmes dublados. Sempre achei a dublagem brasileira tosca (e de fato era) e os títulos de filmes mal traduzidos. O cinema brasileiro sempre foi meio amador e sempre teve muito dinheiro- excluo aqui o horroroso hiato da década de 90, representada por Xuxa, Trapalhões e um avulso. O sindicato dos atores é voltado pros atores de Tv. Arrecada-se muito dinheiro com a CODECINE,em virtude principalmente das propagandas,onde não somos nadas amadores.

Na Europa, a maioria dos filmes são dublados pra preservar a classe artística. Reserva de mercado mesmo. Eles fazem protencionismo com o cinema nacional, enquanto que aqui se supertributra aquilo que funciona bem. Lá, existe financiamento público de cinema, algo que lá se leva muito a sério. Aqui, utiliza-se dinheiro público pra financiar uma classe que naturalmente chama atenção pelo apelo comercial. Aí, a referência de filmes acaba por ser de filmes globais, com atores globais, pra se fazer publicidade de algum produto.

É inegável que existe hoje um preparo muito melhor dos atores brasileiros. Não esses bonitinhos, modelinhos, atores de malhação,mas atores alternativos. Cinema alternativo sempre haverá de ser esperança da arte. Alguns desses filmes foram premiados em festivais, inclusive, Estamira, "Os Famosos e os Duendes da Morte", que falei abaixo. Note-se que eu usei filmes em que não há atores profissionais,embora sejam tecniamente apresentáveis. Bem dirigidos, bem roteirizados, uma prova de que estamos profisionalizando nosso mercado, deixando de ser paga-paus de filme americano.

Também existem os canais espelhos pagos de cinema que têm em sua grade canais dublados.Você tem o HBO 2, o Telecine Pipoca, por exemplo, que, por exigência de grande parte da audiência, como já havia sido feito com os canais de série, passaram a ter a opção dublada dos filmes lançados nos canais principais. E são muito bem dublados. E, a cada filme, você sempre tem uma nova voz, não aqueles mesmos de sempe.  Estão derrubando qualquer mimimi a respeito de preferências por filmes legendados, que aliás, até bem pouco tempo atrás, as pessoas usavam pra se diferenciar. Se um filme chinês é dublado em inglês com legendas em português, o camarada que assistia achava o máximo. Não poderia ser em português. E vem aquilo de você apreciar o estrangeiro e assistir, por exemplo, a única cópia de Invasões Bárbaras, com som original dublado em alemão, que eu tive que assistir.

Eu confesso que eu tenho gostado bastante desses canais dublados.E, inclusive, sou bem a favor da dublagem bem feita. Poupa muito esforço em alguns filmes. Embora seja legal você ver legendado pra sacar a atuação do ator, só faz mesmo diferença quando você conhece o idioma original do filme. Se for um filme de suspense, você perde um pouco da ação, lendo as legendas.

E quando a Band teve sua época de só jogar filmaços alternativos às segundas-feiras, você não deixava de assistir porque era dublado, mas estava implícito que a dublagem era pra gente que não sabia ler ou não entendia inglês, espanhol, etc.? E olha que a Band mandava muito bem! Foi pioneira nesse negócio de colocar filmes espanhóis, italianos, americanos alternativos, relativamente novos, junto com a novela da Globo. E isso no final da década de 90, quando os canais pagos eram de dificil acesso.

É claro que o SATED  tem sua função na melhoria da qualidade do cinema e das dublagens, mas é óbvio, que isso, com boa vontade, também é resultado de uma democratização do cinema e de um melhor acesso a filmes de diversas culturas, não só os americanos. E o melhor de tudo: a exigência do mercado por bons profissionais.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sobre o racismo

Não vi nada demais no vídeo do Rodrigo Lombardi quando eu li o que ele escreveu. Até  o defendi, porque a gente sempre acha que as coisas são distorcidas pro lado mais fraco, quando se trata de criticar atitudes alheias. E ele, ao citar Sammy Davis Jr. pra elogiar um branco, obviamente, no alto da efusividade e descabimento, acabou, sim, sendo preconceituoso. E isso foi levado às alturas na internet pra vincular ao racismo.

Honestamente, ele não tem intelectualidade suficiente pra ser racista citando um negro e indiretamente vinculando capacidade do negro que se destacava pelo talento no meio de brancos. E  fazendo disso uma identificação com ele. Ele sequer era nascido, então, nem fazia sentido o comentário, mas a verdade é que negro é feio na nossa sociedade. Bonitos são os brancos de olhos azuis. Este foi o contexto que ele deu: o negro, pra ser bonito, tem que ter talento acima da média. Isso é verdade. Infelizmente.

A gente pode pensar muito a respeito disso, mas deve acontecer uma retratação para que o assunto morra. Apenas queria deixar registrado os casos em que negro entra, que branco nem põe os pés: no boxe, no rap, hip hop, no soul, no jazz. Exemplos de lugares aonde brancos cantam como negros. Joss Stone é tida na mídia como uma branca com voz de diva negra do soul. Como assim? Amy Winehouse, idem.O melhor rapper de todos tempos, Eminem, é branco. E isso era pra ser ironia, só não é porque a gente sabe que botar o negro como privilegiado sobre  o branco é compensação de desigualdade. 

Então, meus caros, quando se tem o parecer ser mais importante que o  ser, teremos sempre o belo prevalecendo sobre o talento. Você não é racista se achar  o loiro de olhos azuis mais bonito, você o consome, fato. Você não precisa dizer que negro também é belo quando você realmente não acha. 

 Asim, você precisa dizer que  o negro é melhor que o branco pra não parecer que você  é racista?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sobre Alice


Primeiro, que este filme é um tapa na cara das pessoas românticas. Uma alegoria do amor e dos relacionamentos, que, quando tratados como são viram mentira. E é sob o ponto da Alice que você deve assistir ao filme Closer. É da Natalie Portman a melhor personagem e a melhor interpretação. Closer tem muito fãs e muitos odiadores, o que faz dele um filme cult, e, apartir de agora,, aviso que tem spoilers, apesar de que um filme já com seus sete anos, se você não o viu, não será por causa de um post que vá deixar de ver. E muitos que viram não entenderam. Então, só leia se você assistiu.

Bom, a primeira cena da Alice é o momento em que ela vê e se apaixona pelo Dan. Ela se inventa pra ele. Conduta amorosa, lembra?, o amado fica acima de você próprio. Ela tenta impressionar o Dan porque ela é uma garota comum. Ela inventa o nome, inventa que é stripper. E não é moralismo, porque na cena do Larry, quando ele pergunta pelo nome dela, ela fala que é Jane Jones. Ele não acredita porque nenhuma stripper usaria o nome verdadeiro, por questão de problemas com a lei. A Alice que o Dan pensa que conhece é inventada. Quando eles terminam, ela tenta ser a garota que o Dan pensava que ela fosse.

O Dan amava a Anna. Abandonou a Alice pra ficar com ela. É a segunda parte do filme. A Anna percebeu de cara, e pergunta o porquê de ele estar desperdiçando o tempo dela. Ele fica abobalhado pela Anna e a Alice percebe e sofre, e se expõe pra Anna. O que a Anna retrata é o amor não correspondido da Alice pelo Dan. E eles vão pra exibição da Anna, quando a Anna e o Dan começam o caso, traindo seus pares, e termina com o abandono. A Alice sabia que o Dan gostava da Anna,mas preferia não ter que encarar. Ela diz no dia da exibição "Estou esperando você me deixar". Ela pensou que poderia dar certo porque a Anna se casou com o Larry e abandonou o Dan*. Ela pensou que poderia amar pelos dois.-

O Dan procurou pela Alice após chorar querendo a Anna de volta pro Larry. A Anna escolheu o Larry porque ela se julgava não merecedora da felicidade. Ela quis o cara ideal pra se construir uma família. Alguém que não precisasse dela. E isto que fez com que os dois homens se apaixonassem por ela. Ela não se colocava abaixo deles. A Anna não sabia amar. Ela era extamente o oposto da Alice. Por isso , ela era livre. Por isso ela escolhe o Larry. E, sim, no final do filme, ela está grávida dele.

Temos o Larry na boate de striptease. O Larry tenta manipular a Alice a dizer que ela sofre como ele. Que os dois compartilhavam da mesma dor da traição. Ele tenta comprar a identidade da Alice. E não consegue, porque ela estava exposta ali. Ela preferia tirar a roupa a mentir. E você fica na dúvida se ela deu pro Larry. NÃO, ela não deu. Mas, pra se vingar do Dan, o Larry plantou que sim.

Por ultimo, a última cena. Ela e Dan comemorando o aniversário de relacionamento. Ele indagando se ela deu pro Larry, ela negando. Ele sai exigindo a verdade. Quando volta, ele aencontra disposta a deixá-lo. E ela tenta magoá-lo, dizendo que transou com o Larry e ele diz que sabia e a perdoava. E ela fala que não contou porque sabia que ele não iria perdoá-la. Ele diz que já havia feito. Nesta hora, se vê que, para o Dan, a Alice nunca existiu. Se não fosse a mentira dela, que fez com que ele se ineressasse por ela, eles não teriam nada. E aí que o Dan se dá conta de que ela não existiu, quando vê o nome Alice Ayres, salvou três vidas, numa placa em homenagem a pessoas que morreram salvando a vida de desconhecidos.

*Aqui cabe uma observação: no término, da ultima cena, acontece uma coisa que o Dan fez com a Anna, quando eles terminaram e ela preferiu o Larry e se casou. Ele dá um tapa na Alice, quando ela o abandona. E a Anna, como Larry, fala "já passei por isso antes".Ou seja, no contexto em que o Larry humilha a Anna, numa comparação entre ele e o Dan. Ao ser perguntada porque ela estava vestida, se percebe que ela apanhou antes do Dan.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Estamira (2006)





Há muito tempo, eu queria falar desse filme. Estamira é um documentário brasileiro sensacional, que trata de um dos temas mais interessantes que eu tenho estudado. Foi um filme polêmico, muito criticado quanto à ética, por ter como protagonista uma esquizofrênica e expor sua vida para o mundo. Isso é algo de que eu discordo totalmente, porque, antes de ser um filme que trata de um doente, é um filme que trata da forma mais respeitosa possível um assunto que é bem mitificado pelos filmes de terror da atualidade. O fascínio das pessoas pela esquizofrenia se dá de forma negativa, porque acham o máximo ver reproduzidas as visões paranóicas, os pesadelos, a violência do tratamento com eletrochoques, mas, da doença em si, da informação a respeito dela, e, principalmente, da ética médica atual para tratá-la, poucos sabem. O esquizofrênico, vulgo, louco, é marginalizado. Ele não desperta sensibilização dos outros e quem assiste "Estamira" não tem como não se emocionar com a retratação (a fotografia do filme é sensacional) do drama da protagonista.

Estamira era uma mulher religiosa que se casou duas vezes e teve três filhos. Ambos os homens que teve não a respeitavam como mulher. E, após a morte do seu segundo marido, um italiano, ela começou a questionar a vida, Deus, e o desrespeito que os homens têm entre si, a partir de sucessivos atos de violência pelos quais passou. Você vê sofrimento na forma dela se expressar e do quanto ela vê como ridícula a submissão do homem, tão esperto e astuto, a um Deus, que mais parece o trocadilo, a inversão dos seus próprios valores usada para domesticar, escravizar e abdicar da sua condição de ser pensante e tão superior aos outros animais.

Depois de ter sido internada num manicômio, ela teve que se submeter às medicações. E ela morre de vergonha disso porque é algo a que ela se obriga, ela se vê dominada pelos cientistas, que só copiam, só aplicam o que lhes é ensinado. Ela não vê sentimento ,nem fé nas pessoas.Ela viu que sua vida não tinha sentido, se refez, e durante todo filme discorre sobre isso: do abandono por parte da família; das escolhas que fizeram por ela.; do lixão de Caxias, de onde ela tira seu sustento.

Há metáforas geniais, o discurso dela em si é fascinante. E, principalmente, durante todo o ano em que ela foi filmada, são registrados os efeitos da medicação e do tratamento psiquiátrico. Esquizofrenia é uma doença incurável e crônica. Estamira não vai ser igual aos outros, então, ela se reafirma em si própria.


Eu separei algumas frases do filme pra deixar registrado.


"Sou Estamira, FORMATO HOMEM PAR. As mães são par, impar são os pais. Os homens. Vocês."

"Sou ser Consciente lúcido, ciente e sentimento."

"Eu transbordei de ficar invisivel com tanta hipocrisia e perversidade. Com tanto trocadilo. A culpa é do hipocrita mentiroso, esperto ao contrario."

"Vocês não aprendem na escola. Copiam, aprendem com as concorrências. Tenho neto de 2 anos que já sabe disso que não foi na escola copiar mentiras e charlatagens."

"O tal do diazepan, então, se eu beber diazepan, eu, que sou louca, se eu beber, fico mais louca. Só copiam. Ela falou que se deus livrasse ela, o trocadilo é ela!"

"Cometa sgnifica comandante natural."

"Tudo aquilo que é imaginario existe e é e tem? Pois é. Nunca tive aquilo que eu sou: sorte boa."

Ela falando do lixão: "Isso é deposito de restos. As vezes também é descuido: resto e descuido. Quem revelou o homem como unico condicional, ensinou-o a conservar as coisas, que é proteger, lavar, limpar e usar mais o quanto pode.

Você tem sua camisa. Você esta vestido, está suado. Você não vai jogar sua camisa fora, não pdoe fazer isso. Quem revelou o homem como unico condicional não ensinou a trair , humilhar, não ensinou tirar. Ensinou a ajudar."

"Economizar émaravilhoso.Quem economiza, tem. O trocadilo fez as coisas de uma tal maneira que, quanto menos elas têm, mais elas menosprezam. MAIS ELES JOGAM FORA."

"Eu, Estamira, sou a visão de cada um. Ninguém pode viver sem mim. Eu me sinto orgulho e tristeza por isso."


Parabéns, Marcos Prado.

Falácias

Detesto discursozinhos retóricos. Acho que você pode ter a opinião que for, mas desde que seja coerente com o que você pensa, não adaptada aos discursos dos dos outros que você defende. Sou advogado. Isto está no meu sangue, então, vai ser meramente institivo analisar o discurso de alguém e pescar a originalidade dos pensamentos. Eu vejo isso no Bolsonaro, não vejo no seu opositor Jean. Detesto o termo heteronormatividade. Detesto reducionismos com base em estereotipização da oposição.

Basear-se em direitos humanos é algo extremamente complicado porque sempre que você os invoca, você vai defender uma relativização e, para a democracia, isso só é relevante a partir da análise imparcial e neutra. Não dá pra você gritar que seus direitos humanos são ofendidos e querer que o Estado compre suas idéias e as coloque num patamar acima dos direitos da maioria das pessoas. Direitos de natureza diferentes. E isso nos argumentos ad hominem está sempre fundamentado em dados estatísticos que a minoria vai dizer que se dá por falta de informação. Odeio empirismos em discussões porque dão sempre margem a discursos falaciosos. A pessoa se dá autoridade pra impor porque contra fatos, não há argumentos e a gente fica naquela velha história de se perder tempo com uma coisa que não está aberta à discussão.

Na faculdade, tive uma professora, chamada Maria Arair, que disse uma das coisas mais relevantes da minha vida:"se você não está aberto a mudar sua opinião, nem comece o discurso". E é assim que eu vejo os anseios políticos das frentes pró-minorias. Não são discutíveis, porque são levados a status de urgência. Não há democracia aí. Isso só comprova a teoria furada dos direitos humanos usados em vão pra relativizar interesses privados. Liberdade num estado democrático é ilusão porque democracia é uma palavra feia, que gera palavras feias. E uma palavra que certamente não rima com ela é respeito.

E o Jean Wyllys me incomoda porque ele é uma farsa. A causa que ele defende é ele mesmo. O seu recalque de não ser unanimidade em reconhecimento. Ele é uma pessoa que pensa ter nascido pra receber aplausos porque ganhou Big Brother. Ele dá "sustentação" à sua luta porque recebeu ameaças de morte pelo twitter. E ele está na câara, apesar dos 13 mil votos, por causa do Chico Alencar, mas quer fazer diferença, mesmo que a sua existência como deputado não esteja relacionada à representatividade.

Não vou postar a entrevista dele na Marília Gabriela, porque este assunto se encerrou com o pronunciamento da Dilma semana passada. Só isso.

sábado, 14 de maio de 2011

Bolsonaro x Câmara

Quando eu postei sobre o modelo de democracia agonista, da Chantal Mouffe, que trata de globalização e cidadania democrática, falei a respeito da incompatiblidade deste tipo de modelo com o nosso. O Caso Bolsonaro x Gays na Câmara representa, ao mesmo tempo, o contraponto desta teoria e o que defende a democracia atual.

Primeiro, Bolsonaro, antes do seu conservadorismo, neste caso, representa o antagonismo. E, com ele, vemos duas consequências imediatas que não só põem por terra a teoria da cientista política acima, como também reforça o quão oportunista é a representatividade dos gays no legislativo e a falta de identificação política com a população em geral. Estou falando dos 84% de aprovação popular ao Bolsonaro da pesquisa do Estadão, e da tentativa de se reivindicar legitimidade absoluta a uma subcultura e um grupo que pleiteia, não a igualdade, mas a sobreposição de valores.

Quando o STF começou a discutir a respeito da união homoafetiva, a câmara pôs em discussão a Lei de Criminalização da homofobia, da mesma forma, o MEC veiculou Cartilha LGBT. Eles aproveitaram o momento em que o órgão máximo do Judiciário brasileiro conferiria constitucionalidade a idéia de família homossexual para lançar à população a desconstrução da heteronormatividade*.Não é fácil domesticar a hostilidade em pessoas formadas, então, o caminho mais "certo" seria acabar com o antagonismo potencial, criminalizando as condutas antigays( Lei) e inserindo no currículo escolar infantil e adolescente os valores identificadores da cultura gay. A transformação do ELES em NÓS.

Não há que se falar em universalização e neutralidade quando se tem um grupo minoritário frente a uma maioria com valores diferentes. Não é a nossa cultura que é heterocentrada, apenas, mas a cultura gay que é paralela e independente. Não é o mesmo que se inserir informações a respeito da histórias dos negros e índios na formação do país, que é fato, principalmente porque somos mestiços e nossa ética engloba valores preconizados por negros, brancos e indígenas. Grupos que estão inseridos e seus costumes absorvidos por um meio muito maior. E o mais importante: não há incompatibilidade direta com os valores em que a sociedade sempre se norteou. Não há outro meio de convívio comum sem que haja a absorção. Preservar totalmente os valores indígenas, por exemplo, só implicaria no isolacionismo - que existe - e numa relativização da sua capacidade frente à sociedade.

Os gays compõem uma subcultura muitas vezes crítica, áspera, e eu diria até antiética, a valores que a sociedade toma como válidos. Lady Gaga representa uma violência à liberdade religiosa, por exemplo. Os representantes dos movimentos homossexuais, muitas vezes, dão declarações extremamente ofensivas à moral, religião e a liberdade de muitas pessoas. Eles representam justamente o antagonismo. E, aqui, neste exemplo, vê-se intolerância também. Toda vez que se nega a manifestação do outro, age-se com intolerância. E quando se está diante de uma maioria, a sensação imediata que se tem é a de marginalização, mas ela, muitas vezes, é reacionária, provocada pelos próprios homossexuais. Homofobia é o nome que eles dão a isso: negação da subcultura, não necessariamente isto se relaciona a um indiíduo, ou a um direito individual. Um homossexual pode existir na sociedade sem apresentar aqueles indícios visuais identificadores,mas ele não pode deixar de fazer parte da subcultura. Quando ele se manifesta, naturalmente, ele se diferencia e a ideologia gay se firma justamente no ser diferente no meio de iguais. E isto não é motivo pra se ter orgulho. O Clodovil pensava assim e era taxado de homofóbico.


O STF, ao reconhecer a união homossexual, fez uma interpretação conforme a constituição(neutralidade) à uma situação fatídica, cujo não reconhecimento trazia agravos à condição de ser humano. Pessoas viam sua liberdade, integridade, dignidade, e seu patrimônio injustamente afetados porque judicialmente e legalmente eram vistos como inexistentes. Nosso ordenamento dizia que não existiam direitos civis a gays e lésbicas. Era ridículo e a condição de casar-se com alguém do mesmo sexo só diz respeito aos indivíduos envolvidos,e ao que eles construirem juntos**. Direitos PRIVADOS. E, apesar do voto efusivo e político do Ayres de Britto, isso não quer dizer que nosso ordenamento incorpore a subcultura gay à constituição e defenda sua inserção à sociedade como um todo, porque tiraria a função precípua de mediador do judiciário.

O Comitê de Direitos Humanos quis universalizar os direitos gays de forma a se tornarem direitos fundamentais, e não contidos no direito de liberdade expressão. O reacionário Bolsonaro bateu o pé. Desta vez, com razão, porque, em muitos itens visavam privilégios, seguindo a linha de discriminação positiva a uma particularidade, fazendo com que ela se valha de força estatal para se sobrepujar à manifestação do outro. São assim também a Cartilha do MEC e a lei de criminalização da homofobia.





*Terminologia adotada pela própria cartilha
do MEC.
** Clarividente, que aqui se fala da questão de bem. Que o conceito de família vem mudando ultimamente justamente pela questão da penhorabilidade. Até família monoparental, o direito concede por uma questão de razoabilidade. Não é uma questão social. No caso do concubinato, por exemplo, havia uma discriminação em relação à mulher e ao filho bastardo, que só foi modificada em 2002, com o NCC. E isso tem consequências desastroas, como o caso de qualquer relacionamento passar a ser considerado união estável. Ficam as partes protegidas apenas pelo "antes". "Depois a gente, no caminho de casa, passa no cartório e acerta". Basicamente é isso que a união estável reconhecida significa pra todos. Só que regime de bens só é discriminável no caso hetero, porque ainda não existe lei pra isso nos cartórios.


sábado, 9 de abril de 2011

(Nós x Eles)²

Pela enésima vez, vemos crianças pagando pelos erros dos adultos. E o que aconteceu com o Welington e as crianças assassinadas por ele é consequência de atitudes e omissões dos outros, que deveriam fazer e não fizeram. Estou falando de pais, educadores, policiais, seguranças. Pessoas que estão pra ensinar e proteger. A violência que vimos esta semana é consequência das distorções de papéis, do medo da responsabilidade e do pragmatismo dos nossos governantes e da política educacional do Brasil*.

Eu entendo sinceramente a revolta, o ódio, indignação, tristeza das pessoas, mas não entendo a surpresa. Supresos com o quê? Aonde que esta tragédia é inédita, inesperada? E digo mais:poderia ter sido evitada, se as pessoas cumprissem com seus papéis na hora que têm que agir. O vilão da história passou boa parte da vida, época em que se constrói caráter, sendo humilhado e teve sua dignidade reduzida a nada. Sofreu reiteradas humilhações, repúdio dos outros como ele, e tudo isso negligenciado pelos "adultos" próximos. Tinha tratamento com psicologa que não o encaminhou para um psiquiatra, tendo em vista que ele era esquizofrênico., que deixou por ele, um incapaz, escolher se deveria continuar com tratamento ou não.E olhe que vivemos sob uma constituição e um idealismo que coloca a dignidade da pessoa humana como príncipio de tudo. O que vem antes, é o que significa a palavra príncpio. Isso que tem que ser investigado no Wellington.

É indiferente saber quem o matou ou se ele se suicidou, como também existe indiferença em relação ao sentimento dos outros. Eu penso que- quando você menos presa a existência de outro ser humano, e o coloca como ele se vê abaixo do mínimo, você se torna responsável pela violência que ele venha a cometer. É bonitinho ver Saint Exupery e a história do pequeno príncipe com a raposa, mas o contrario sensu também é verdade. E a raposa, no nosso mundo real, não tem a mesma fama que a do livro. É ironia fina.

O vilão, quando morre, acaba a história. O atirador morreu, aí as pessoas começam a ficar perplexas, indignadas, revoltadas com a crueldade e com todo imediatismo da situação. A história do atirador começou na hora em que ele entrou na escola e terminou quando ele morreu. De resto, é preciso apenas saber quem deu as armas, e se iniciar toda uma política de desconstrução e desumanização dele, junto com as famigeradas passeatas pela paz. Não se discute violência no nosso país porque não se discute ética. Somos um povo que vê as coisas sob olhar acusador, porque,de outro modo, humanizaríamos os vilões e, assim, nunca teríamos a reação de estarmos lidando com casos bárbaros como se fossem inéditos.

E todos os casos de repercussão são vistos como novelas. O suposto policial que matou o suicida é tido como herói. A violência começa com as mortes e terminam com o fim do inquérito policial. É o prazo em que as notícias se exaurem e cansam o telespectador.É mais ou menos esta a sensação que me dá.

Antes do incidente, Wellington não era nada, e agora ele é um assassino. Então, humanizemos os Wellingtons antes que eles se tornem assassinos. Não tratemos crianças como apenas crianças,mas seres humanos em formação. Tudo isso poderia ser evitado e ainda se pode evitar pra outras pessoas futuramente.

A diferença entre o herói e o vilão, é que, ao herói, é ensinado a olhar pelos outros, e o vilão se vê obrigado a olhar por si, por não ter quem olhe por ele.

*Basta que se analise a entrevista com o colega de classe dele, enquanto estudavam lá.